Confissões de mãe
Uma gravidez planejada, um filho desejado, uma família que oferece suporte e encorajamento. A euforia do teste rápido de urina seguida pela insegurança e pela ficha que ainda não caiu: Estamos grávidos!!
Sem saber exatamente o que encontraremos pela frente, seguimos: confiantes, e felizes, sendo surpreendidos a cada mudança e a cada descoberta. Dos enjoos, ao primeiro chute; das frequentes idas ao banheiro à primeira cutucada na costela; da barriga que não cabe mais na calça e do sutiã que não fecha; do lento andar com pernas abertas, à dificuldade de se levantar, abaixar ou colocar sapatos. Das noites interrompidas pela falta de posição ou pela vontade frequente de fazer xixi. Dos carinhos na barriga, aos ” mamãe, papai, vovós, titios e priminhos estão te esperando, você será muito bem- vindo!” Da primeira meinha, ao enxoval completo, e todo o quarto decorado. 39 semanas voaram e uma madrugada o susto do “xixi” que não para e molha a roupa inteira. Ainda é cedo!A mala da maternidade no canto do quarto, recém feita, mostra sua serventia antes mesmo de pegar pó. Chegou, enfim, a hora de nos conhecermos e darmos início à nossa história.
Já com o bebê em casa, as mamadas são frequentes e as trocas de fralda incontáveis. A noite que vira dia, a madrugada que se alonga e o dia que passa sem vermos para onde ele foi nem o que fizemos dele. O cansaço que se arrasta pelo corredor, pela cozinha, pelo quarto. A fissura que faz ver estrelas a cada mamada. O frio da roupa molhada pelo peito vazando, o sangramento que teima em não cessar. As lágrimas que caem, sem sabermos exatamente qual o motivo do choro.
O cabelo que despenca, as olheiras que aumentam, os olhos vermelhos que incham, cheios de lágrimas, a criança que não para de chorar, que não dorme, não dá sossego, não deixa em paz. A fugaz vontade de jogar a criança pela janela. A perene culpa por ter sequer pensado na ideia. O desejo de gritar: “Dorme, pelo amor de Deus!”, de sair correndo, de fazer as malas e ir embora. A crise de fúria que esmurra a porta quando apenas queria dormir e o pai coloca a criança no berço e ela insiste em urrar. Por que não é como um Tamagotchi? Por que minha maternidade não é igual às que são mostradas nos filmes, livros ou revistas?
Os palpites que chovem, as bocas cheias de conselhos e ordens, tantas vezes contraditórias, ilógicas, infundadas. O serviço de casa que não acaba, a refeição improvisada e fria. Às idas ao banheiro sempre acompanhada, e o banho e a escova de dente adiados para o próximo soninho. Os assaltos da geladeira de madrugada, o olhar distante na janela, sem coragem ou motivo para sair de casa.
A vida que virou de cabeça para baixo. O marido que faz tudo errado. A mãe que se intromete e só irrita. As visitas que fazem muito barulho e só trazem mais trabalho. A solidão, o desânimo, o desespero que tomam conta. A culpa que devora, e o isolamento que se segue. Uma criança saudável, trabalhosa, como toda a criança, como reclamar? Sem complicações no parto, em dois dias estava em casa, com direito a licença maternidade mas a fala é de voltar ao trabalho e ter outra vida. Como pode ser tão fraca e ingrata! Onde estava com a cabeça? Deveria é estar pulando de alegria! O que fiz da minha vida??!! Ela era tão boa! Dona dos meus horários e das minhas vontades, do meu sono e das minhas necessidades. Ávida para desbravar o mundo, e aproveitar as coisas boas da vida. Hoje cabelos não penteados, dentes não escovados, barriga flácida, cheia de bolo, salgado, chá, pão e o que mais que estiver pela frente.
O casamento que desanda, transformando os companheiros em estranhos que dividem uma casa. As fraldas trocadas mecanicamente, banho dado, mamada realizada, arroto dado, o passeio no corredor, no carro, no carrinho a espera do próximo sono e um curto período de paz. Por que chora tanto, grita tanto é tão irritado, luta tanto para dormir, acorda tanto, e dorme tão pouco!? Quanta cólica que não passa, quanto remédio que não funciona! Mas sou forte, tudo passa, dou conta!
90% das depressões pós-parto não são diagnosticadas e nem tratadas. Como qualquer outra doença, ela não é fruto da escolha, da fraqueza, ou do desejo que quem a desenvolve. Alguns estudos têm demonstrado que desregulações hormonais podem representar parte da causa dos transtornos do humor no período perinatal. Durante esse período, cerca de 85% das mães experimentam, pelo menos, alguma forma de alteração do humor. A maioria delas apresenta sintomas relativamente leves e transitórios, conhecidos como maternity blues ou disforia puerperal. Já a depressão pós parto é marcado geralmente por humor deprimido, perda de prazer e interesse nas atividades, alteração de peso e/ou apetite, alteração de sono, agitação ou retardo psicomotor, sensação de fadiga, sentimento de inutilidade ou culpa, dificuldade para se concentrar ou tomar decisões e até pensamentos de morte ou suicídio.
SEJA SUA GRAVIDEZ PLANEJADA OU INDESEJADA, TRANQUILA OU COM INTERCORRÊNCIA, SEJA SUA REDE DE APOIO EFETIVA OU AUSENTE, SEJA APENAS UM BABY BLUES OU ALGO A MAIS: VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA, NÃO PRECISA E NÃO DEVE DAR CONTA DE TUDO! PROCURE AJUDA. VOCÊ E SEU BEBÊ NÃO DEVEM SOFRER CALADOS.
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