Momento de intensa alegria, ansiedade e modificação. Um misto de medo, alivio e saudade. Saudade da barriga que já não chuta, ou cutuca a costela, saudade da vida que ia junto a todos os lugares, sem deixarmos nada para trás. Saudade de noites não interrompidas, de refeições quentes e banhos demorados.
Mais uma etapa será vencida. Hora de conhecer quem, por 9 meses, dominou nossos ventres e nosso coração. Hoje a barriga ficará vazia, os braços cheios, a cabeça, os hormônios e as emoções a mil. Um bebê nasce e nasce também uma mãe.
Sem julgamentos de certo ou errado, apenas sentimentos, interação. Tão pequeno e frágil, mas tão forte e capaz de inspirar tanta mudança.

Assim surge a necessidade de um parto humanizado: uma simples retomada do conceito da medicina sendo realizada de uma alma para outra, com empatia, acolhimento e conhecimento. No qual  a mulher tem liberdade, pode fazer escolhas, é respeitada e está bem informada, sem serem realizadas intervenções desnecessárias, mas também sem negligenciar a necessidade de intervenções que preservem a integridade e a saúde da mãe e do bebê

           O equívoco ocorre quando, em prol do contato humano, o conhecimento perde espaço. Quando o inesperado ou o que deveria ter sido previsto é negligenciado. Quando a alegria se transforma em medo e angústia, justificados por intercorrências no parto ou puerpério, e este momento único ganha marcas negativas e consequências para uma vida inteira, limitando e sofrendo toda uma família.
Parto domiciliares podem parecer o máximo do aconchego e do acolhimento quando tudo dá certo , apesar de poucos recursos estarem disponíveis. O que não se sabe, ou o que pouco se difunde é que todos os cuidados hospitalares podem ser os definidores para a vida e a morte ou para uma vida plena ou sequelada.
O cuidado pleno vem com equilíbrio, compaixão, conhecimento e tecnologia. Separados podem transformar este momento lindo em desastre. Juntos, mesmo quando o desastre está anunciado pode, ainda assim, ser marcado com tranquilidade, segurança, acolhimento, conforto e amor.

Dra. Ana Fonseca
CRM 163450. PEDIATRA – RQE n 60813.

Diretora clínica da SOROPED